Os instrumentos da capoeira são fundamentais para a criação de ritmo e acompanhamento na dança. A capoeira é uma arte marcial afro-brasileira que mistura luta, dança e música. Os instrumentos tradicionais da capoeira, como o berimbau, o atabaque, o pandeiro e o agogô, desempenham um papel crucial na dinâmica do jogo e na tradição cultural da capoeira. Conhecer os instrumentos da capoeira é fundamental para entender e apreciar essa arte marcial.
Os instrumentos da capoeira têm uma história rica e interessante, que remonta à época da escravidão no Brasil. Os escravos africanos trouxeram consigo suas tradições culturais e música, incluindo os instrumentos da capoeira. Esses instrumentos foram adaptados e evoluíram ao longo do tempo, mas ainda mantêm sua conexão com as raízes africanas da capoeira.
Os jogos de capoeira são acompanhados por uma roda de capoeira, composta por um grupo de músicos e jogadores. Os instrumentos da capoeira são usados para criar ritmo e acompanhar os jogos.
Os instrumentos da capoeira são:
Berimbau
Atualmente, é o principal instrumento musical da capoeira. É o único que, numa roda de capoeira, pode figurar sozinho, sem os demais instrumentos. Os afro-brasileiros o usavam em suas festas, e sobretudo no samba de roda, como ainda se vê. Henry Koster, pesquisador inglês, quando viajou pelo nordeste do Brasil, observou e descreveu essas festas, que incluem o berimbau entre os instrumentos utilizados, como se pode ver no seguinte trecho:
Os negros livres também dançavam, mas se limitavam a pedir licença e sua festa decorria diante de uma das suas choupanas. As danças lembravam as dos negros africanos. O círculo se fechava e o tocador de viola sentava-se num dos cantos, e começava uma simples toada, acompanhada por algumas canções favoritas, repetindo o refrão, e freqüentemente um dos versos era improvisado e continha alusões obcenas. Um homem ia para o centro da roda e dançava minutos, tomando atitudes lascivas, até que escolhia uma mulher, que avançava, repetindo os meneios não menos indecentes, e esse divertimento durava, às vezes, até o amanhecer. Os escravos igualmente pediam permissão para suas danças. Os instrumentos musicais eram extremamente rudes. Um deles é uma espécie de tambor, formado de uma pele de carneiro, estendida sobre um tronco oco de árvore. O outro é um grande arco, com uma corda tendo uma meia quenga de côco no meio, ou uma pequena cabaça amarrada. Colocam-na contra o abdômen e tocam a corda com o dedo ou com um pedacinho de pau. Quando dois dias santos se sucediam ininterruptamente, os escravos continuavam a algazarra até a madrugada.1
O berimbau que hoje se conhece e se toca em todo o mundo é um arco feito de madeira específica (nem toda madeira serve; a mais usada é a biriba), tendo as pontas ligadas por meio de um fio de aço (geralmente, retirado das bordas de um pneu). Numa das extremidades, amarra-se uma cabaça (Cucurbita lagenaria, Linneu), e esta, quanto mais seca estiver, melhor.
Faz-se na cabaça uma abertura na parte que se liga com o caule e, na parte inferior, dois furinhos por onde passará o cordão que vai ligá-la ao arco de madeira e ao fio de aço. Para tocá-lo, toma-se um dobrão (moeda antiga) ou um seixo arredondado e chato, uma baqueta (ou vaqueta, pequena vareta de madeira ou de bambu) e um caxixi. Nos primeiros tempos da colonização, havia no Brasil outro tipo de berimbau, bem menor, tocado com a boca, conhecido na América Latina como berimbau de Paris.
Entre os etimólogos, há verdadeiro desencontro a respeito da origem do nome berimbau. A Real Academia Española registrou o verbete na 12a. edição de seu dicionário, em 1884, que até hoje ainda sugere proposição onomatopaica para a sua origem: “voz imitativa del sonido de este instrumento”. Há proposições para origem africana, de Leite de Vasconcelos, em artigo publicado na Revue Hispanique, onde apresenta o mandinga bilimbano.2 Renato Mendonça propõe o quimbundo mbirimbau, com a simplificação do grupo consonantal mb.3
Desconhece-se precisamente a verdadeira origem do próprio instrumento e por que vias chegou ao Brasil. Registra-se sua existência em várias partes do mundo, inclusive na África, nos territórios de Iaca e Benguela. Possui muitas denominações e vem sendo motivo de estudo, até mesmo em cadeiras de departamentos universitários a ele dedicadas. É considerado o mais completo instrumento de percussão. No Brasil, é conhecido por: berimbau, urucungo, orucungo, oricungo, uricungo, rucungo, berimbau de barriga, gobo, marimbau, bucumbumba, gunga, macungo, matungo, rucumbo. Em Cuba, país da América Latina onde ele é tão conhecido como no Brasil, é chamado de sambi, pandiguro, gorokikamo e também burumbumba, que deve ser uma variação de bucumbumba no Brasil. Há indicações de seu uso nas práticas religiosas afro-cubanas, coisa de que não se tem notícia de se fazer no Brasil. Burumbumba (buro = falar, conversar; mbumba = habitáculo do morto ou espírito “familiar”) é o instrumento que “fala com os mortos”.
Se você quiser saber mais sobre o berimbau, leia esses artigos:
- Como tocar berimbau: Guia passo a passo para dominar este instrumento icônico da cultura brasileira
- Descobrindo a origem do berimbau: um olhar sobre a história dos escravos africanos
- Passo a Passo: Aprenda como fazer um berimbau com facilidade em casa
Pandeiro
A origem do termo ainda é controvertida. No século passado, Adolfo Coelho relacionava o vocábulo, com alguma dúvida, ao latim pandura. Em nossos dias, J. Carominas o faz derivar de pandorius, variante de pandura, tomado do grego pandoura. O mais sensato, porém, no caso da língua portuguesa, é acompanhar Antenor Nascentes e Pedro Machado, e admitir o espanhol pandero como gerador do nosso pandeiro.
Luciano Gallet inclui erradamente o pandeiro entre os instrumentos africanos vindos para o Brasil, enquanto José Subirá, em sua História de la Musica (Salvat Editora, 1958), relaciona o pandeiro como um dos antiqüíssimos instrumentos musicais da Índia. Os hebreus o utilizavam bastante, mormente em cerimônias religiosas. Na Idade Média, impôs sua presença e instalou-se definitivamente na península ibérica com a invasão árabe. Os ibéricos o utilizavam com freqüência em bodas, casamentos e cerimônias religiosas, especialmente na Procissão de Corpus Christi em Portugal, e, no século XVI, na Espanha. Teve ainda o pandeiro grande destaque entre os jograis, que o levavam de corte em corte.
O pandeiro entrou no Brasil por via portuguesa, e se fez presente já na primeira procissão que aqui se realizou, a de Corpus Christi, na Bahia, a 13 de junho de 1549. Depois, foi aculturado e aproveitado pelos negros em seus folguedos, o que se verificou também entre os negros da América Latina, especialmente os cubanos: em Cuba, o pandeiro é um dos instrumentos da liturgia nagô, havendo até pandeiros específicos para orixás.
Se você quiser saber mais sobre o pandeiro, leia esse artigo:
Adufe
O adufe é um pequeno pandeiro de formato quadrado. Sua procedência é mourisca. O termo é de origem árabe, ligado a duff, tímpano.
Foi instrumento familiar dos hebreus e, segundo José Subirá, o tympanum, que aparece no Gênesis, 31.27 é o adufe. Na Arábia, teve muito prestígio entre os monarcas; quando invadiram a península ibérica, os árabes levaram consigo o adufe, que lá teve muito mais prestígio que o pandeiro.
Assim como o pandeiro, o adufe entrou no Brasil por via portuguesa, e também foi incluído erradamente por Luciano Gallet entre os instrumentos africanos vindos para cá. O adufe foi também aculturado e aproveitado pelos negros no Brasil. Foi muito utilizado, porém hoje não se tem mais notícia de sua existência.
Se você quiser saber mais sobre o adufe, leia esse artigo:
Atabaque
O termo é de origem árabe; os etimólogos arabistas aceitam com unanimidade a forma tabl, que Diez nomeia como maurische Panke (tímpano mouro). Espalhou-se o vocábulo na área românica. E além do português antigo atabal e tabal, deu no espanhol atabal, asturiano tabal, santanderino tabal, catalão tabal, italiano ataballo, taballo, provençal tabalh e moderno francês attabal. Assim como o pandeiro e o adufe, o atabaque se encontra presente na poética medieval, principalmente por obra dos Reis Católicos de Espanha, Isabel e Fernando de Aragão, que muito o prestigiavam, por meio dos jograis, bodas e outras festas.
É um instrumento oriental muito antigo entre os persas e os árabes, muito divulgado na África. Embora os africanos já conhecessem o atabaque, acredita-se que ao chegarem ao Brasil já o encontraram aqui, trazido pelos portugueses para ser usado em festas e procissões religiosas, como o pandeiro e o adufe. Desconhece-se a história de como passou a ser utilizado na capoeira.
Baqueta
A baqueta é um instrumento de percussão usado na capoeira. É uma vara curta e grossa feita de madeira, geralmente de jequitibá, usada para tocar o atabaque e outros instrumentos de percussão. A baqueta é segurada com uma das mãos sendo usada para produzir um som rítmico, que acompanha os jogos de capoeira.
Caxixi
O caxixi é um instrumento de percussão usado na capoeira. É uma pequena caixa feita de vime ou outra fibra natural, com uma ou duas sementes ou pequenas pedras dentro. O caxixi é segurado com uma das mãos sendo usado para produzir um som rítmico, que acompanha os jogos de capoeira.
Agogo
O agogo é um instrumento de percussão usado na capoeira. É composto por duas ou três campânulas de metal, geralmente feitas de aço, tocadas com uma baqueta. O agogo é segurado com uma das mãos sendo usado para produzir um som rítmico, que acompanha os jogos de capoeira.
Reco-Reco
O reco-reco, também conhecido como ganzá, é um instrumento de percussão usado na capoeira. É um tubo oco feito de bambu ou outra madeira, com ranhuras cortadas ao longo de sua superfície. O reco-reco é segurado com uma das mãos sendo deslizado com a outra, produzindo um som rítmico, que acompanha os jogos de capoeira.
Dobrão
O dobrão é como se chamavam as moedas antigas, em geral, são maiores e mais pesadas que as nossas moedas atuais, geralmente usada como um meio de tocar o berimbau. O dobrão é colocado entre as cordas do berimbau e apertado com o dedo, criando uma nota diferente.
O dobrão é colocado em diferentes posições para criar notas diferentes e assim criar a música da capoeira.
Além disso, ele também é usado como símbolo de respeito e posição dentro da comunidade de capoeira.
foda demais nem li